Ao ler um livro, você se depara com um universo todo novo de detalhes, nomes, lugares e eventos diversos. As absorções dos mínimos detalhes são acumuladas em sua mente, e seu cérebro surpreendentemente lembrará essas coisas com relativa facilidade. Quando criança, sofri um acidente automobilístico. Minha memória de curto prazo foi diretamente afetada. Acontece que foi neste mesmo período que decidi aprender inglês lendo um livro de gramática. O esforço extraordinário que precisei fazer para memorizar as palavras e seu significado em um minidicionário da língua inglesa, ao longo de muitos anos, resultaram na restauração natural da minha memória. A prática constante da leitura lhe coloca em contato com termos, lugares, detalhes, nomes de pessoas, personagens, conceitos que uma pessoa comum jamais se deparará. Essas novas informações acabam criando novas sinapses (vias cerebrais) e fortalecem as existentes, o que ajuda na recuperação de memória de curto prazo e na estabilização do humor. Hoje, sou programador, web developer e graphic designer, por causa dos avanços de memórias que desenvolvi pela falta da minha memória de curto prazo. Não saberia dizer se tem mesmo alguma diferença, só sei que desenvolvi uma memória poderosa e organizada.

Escrever é uma arte. Se você deseja escrever e sente dificuldades, comece lendo intensamente. Quando comecei a ler após o acidente, me frustrava muito por causa das constantes dores de cabeça e por que acabava esquecendo tudo ao virar a página. Muitas vezes tive que voltar à página anterior e ler tudo novamente, somente para esquecer na página seguinte. Frustrado, parava a leitura e perdia o interesse por aquele livro. Comprei muitos livros e nunca os li. Comprava pelo tema, mas os abandonava por causa da minha memória. Até que um dia me deparei com uma revista, que trazia uma matéria com um tema superinteressante. O título da matéria era: “Você não gosta de ler porque não sabe a ler”.

Achei aquele título interessante e ao mesmo tempo um absurdo. Como? Eu sei ler, mas não gosto mais de ler. Disse para mim mesmo, irritado. Quase como que uma revolta contra aquele escritor. Peguei a revista e comecei a ler a matéria. Interessante que esta matéria está presente em minha vida por mais de 35 anos. Devorei aquele artigo e o pratiquei linha por linha. Fiz exatamente tudo que o autor sugeriu. Tudo deu certo, e eu saia de casa com um livro para ler no ônibus lotado, na praça, no mercado, em lugares barulhentos e com som alto.